quinta-feira, 8 de março de 2012

Sonia Faraldo: “Por todas as conquistas, grandes amizades e paixões, lutas e sonhos vividos nesta universidade, tenho a sensação de dever cumprido”

 Nesta entrevista, Sonia Faraldo lembra as funções que desempenhou, como era o câmpus na década de 1970 e os principais movimentos realizados, principalmente por servidores 

 





Quando e em qual função ingressou na FCMBB?

Em 25 de abril de 1974 fui contratada na Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu para exercer a função de secretária-bolsista do Projeto Kellog, no Departamento de Saúde Pública, antigo Departamento de Medicina Legal e Preventiva, sob a responsabilidade do professor Nelson de Souza. Neste mesmo ano, fui para o Centro de Saúde Escola para ocupar a função de secretária-bolsista, sob a chefia do professor Eurivaldo Sampaio de Almeida. O Centro de Saúde era conveniado com a FCMBB e Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Com a saída do professor Eurivaldo para ocupar a função de Secretário de Saúde do Estado São Paulo, trabalhei sob a chefia da professora Cecília Magaldi. Em 31 de dezembro de 1975, assumi, por concurso público, a função de escriturária na secretaria da vice-diretoria da FCMBB e colaborava com a Seção de Engenharia e Planejamento desta Faculdade, sob a chefia do professor Paulo Mattos. Fui escriturária na Seção de Nutrição e Dietética do HC da FCMBB, no período de abril de 1976 a fevereiro de 1977.


E no Instituto?


Em março de 1977, com a criação do Instituto Básico de Biologia Médica e Agrícola passei a exercer a função de escriturária no Departamento de Microbiologia e Imunologia, sob a chefia do professor Carlos Alberto de Magalhães Lopes. No final de março de 1977, fui nomeada Secretária CD2 do Departamento de Microbiologia. Ocupei funções indicadas por órgãos colegiados do IB: representante de Conselho do Departamento, representante na Congregação, membro do Conselho Curador da Fundibo (Fundação do Instituto de Biociências), membro titular da Comissão de Biossegurança do IB, de comissões processantes indicadas pela Diretoria do IB, de apoio à Comissão Recursos Humanos, de comissão de avaliação de servidores nas carreiras da universidade, de comissões para estudo da reforma de estatutos e reforma constitucional, representante dos secretários do câampus de Botucatu para tratar de assuntos da categoria na Reitoria da Unesp.

 Como era o câmpus no início de sua carreira? 
Sônia no Departamento de Saúde Pública, em 1974
A FCMBB era uma das melhores universidades do país. Foi criada na década de 50, com apoio político do ex-presidente Jânio Quadros, do governador Adhemar de Barros, que doou a área para seu funcionamento e o prefeito de Botucatu, Emilio Peduti, que não mediram esforços para transformar uma área que era destinada a um hospital de tuberculosos para Faculdade de Medicina de Botucatu. Ainda contou com o espírito de luta dos jornalistas José Amaro Faraldo e Zeferino Vaz para que o sonho fosse realizado. Passou a funcionar oficialmente em 1963. Nessa época, 16 servidores fizerem concurso para funções de servente e escriturário. Como administrador, o senhor Walter de Souza era responsável por esses servidores, bem como por todos os atos administrativos processados nesta Faculdade. Todos os departamentos, incluindo os das Ciências Agronômicas, ficavam no H (prédio branco). O prédio do câmpus não existia, nem a Biblioteca. Os prédios extras eram o da Seção de Transporte, Gráfica, Almoxarifado, Necrotério, Lavanderia. Os servidores picavam seus cartões de ponto no corredor central, onde funciona atualmente, a cozinha do HC (Hospital das Clínicas), a área de vacina.
Como é do conhecimento de todos, o professor Nicanor Letti ministrou a 1ª aula de anatomia na FCMBB, conhecida como aula inaugural, mas precisou sair da nossa instituição, deixando um legado de conhecimento às novas gerações, bem como a nossa gratidão e reconhecimento pelos seus feitos. Em seu lugar ficou o professor Neivo Zorzetto, responsável pelo Departamento de Anatomia, que, desta data em diante, não mediu esforços para que a qualidade dos nossos cursos fosse mantida.
O Departamento de Microbiologia e Imunologia funcionava onde é a Maternidade, depois mudou em cima do Departamento de Patologia. Em princípio, a Microbiologia e Imunologia eram disciplinas do Departamento de Patologia, que além dessas comportava a Disciplina de Parasitologia e Anatomia Patológica. As disciplinas eram integradas, mas independentes quanto à sua maneira de atuação e de gestão.

Que lembranças tem da época da criação da Unesp e do Instituto?


Desde 1974, já existia a vontade política de se criar a Universidade Estadual Paulista que absorvesse boas faculdades do Estado de São Paulo. Entre elas a FCMBB estava no rol das que seriam incorporadas. Foi montada uma comissão precursora para estudar a incorporação da FCMBB à Unesp onde participavam os professores Armando Ramos e Gilberti Moreno, entre outros. Na época, ocorreram muitas passeatas contrárias a essa vontade política. Muitos professores foram conversar com o governador do Estado e secretários, envolveram políticos solidários da época, para impedir que esse feito se concretizasse, mas de nada adiantou. Aconteceu a incorporação da FCMBB. Nessa oportunidade, o governador indicou Luiz Ferreira Martins para primeiro reitor. Em Rubião Júnior, a FCMBB foi dividida em faculdades interligadas, mas com gestões próprias. Fomos divididos em cinco unidades administrativas: Faculdade de Medicina, Faculdade de Medicina Veterinária, Faculdade de Ciências Agronômicas, Instituto Básico de Biologia Médica e Agrícola e o Grupo Administrativo do Câmpus. Nessa oportunidade, vários departamentos que pertenciam à FCMBB desmembraram-se. O Departamento de Patologia, por exemplo, ficou na Faculdade de Medicina e suas disciplinas Microbiologia, Imunologia e Parasitologia tornaram-se departamentos independentes no Instituto Básico de Biologia Médica e Agrícola. Assim, no final de 1976, inicio de 1977, o Instituto iniciou suas atividades acadêmicas e administrativas, sob a direção da professora Wilma Pereira Bastos Ramos (diretora) e Gilberti Moreno (vice-diretor). O Instituto foi dividido em 13 Departamentos: Anatomia, Biofisica, Bioestatistica, Bioquímica, Botânica, Educação, Farmacologia, Fisiologia, Genética, Microbiologia e Imunologia, Morfologia, Parasitologia, Zoologia. Os departamentos, em principio, funcionavam, muitas vezes, de forma precária, porque estávamos em fase de adaptação. O Departamento de Educação, por exemplo, funcionou juntamente com uma unidade do IB chamada na época de CCI (área de informática). A Diretoria compreendia a área administrativa composta pelos diretores, pela secretária Ivonete Dorini de Aguiar e Silva e pelo pessoal de apoio que era composto pela área acadêmica onde o servidor Helio Cotrim era o diretor técnico-acadêmico e a Diretoria Administrativa que era ocupada pelo servidor José Vicente Fortes. As seções que funcionavam eram: Graduação, Seção de Pessoal e Pagamento, Atividades Auxiliares e Manutenção. Ainda não tínhamos uma central de aulas. Os alunos ficavam espalhados pelo câmpus. Começamos nossas atividades nos prédio onde estamos hoje, em 1981. Nessa oportunidade já contávamos com o nosso Anfiteatro. Estávamos em fase de contenção de verbas, porque dependíamos completamente da verba do governo do Estado que repassava às universidades estaduais. Era uma quantia insuficiente para mantê-las, bem como seus hospitais. Foram anos de muitas dificuldades financeiras e de muitas transformações. O professor Gilberti estava sempre em entendimento com órgãos do Estado e empresas particulares para conseguir mobiliário para este Instituto. A Fatec e o Banco Itaú colaboraram nas doações. Muitos convênios foram firmados para aquisição de Equipamentos, por exemplo: Convênio com Alemanha, Convênio com a Hungria, Convênio Franco-Brasileiro, Convênio com a Espanha, etc. Embora tivéssemos uma visão positiva quando da assinatura desses convênios, o resultado não era dos melhores, porque apenas equipamentos antigos e sucateados chegavam ao nosso câmpus. Além disso, os aparelhos acabavam em desuso por falta de garantias e de mãos-de-obra especializadas para manuseá-los e consertá-los. Ficavam encostados e serviam de entulhos nos corredores dos departamentos, após terem sido patrimoniados, tornava-se muito difícil o descarte. Entretanto, mesmo com todos os problemas ocasionados pela divisão entre as faculdades, a qualidade do ensino era a mesma, porque sempre tivemos ótimos professores e servidores que nunca deixaram a qualidade das nossas aulas se perderem. A base firme e forte da FCMBB ficou como um suporte para que as transformações continuassem a ocorrer, mas a saúde dos nossos cursos prevaleceu. Os departamentos funcionavam concomitantemente e integrados. As disciplinas eram matérias de domínio conexo e ministradas em uma sequência lógica. Os laboratórios eram conjuntos e todos os alunos, de forma geral, aprendiam na mesma cartilha.


Quais foram os principais movimentos de servidores técnico-administrativos?

Servidores e docentes sempre lutavam juntos pela desigualdade social, pela qualidade da saúde, pelo meio ambiente, por melhores salários, enfim pela ideologia político-social.
Assim, grandes movimentos ocorreram nestes anos de FCMBB (63-76) e de Unesp, como: Operação andarilho, 70 + 2000, Democratização e liberdade política, participação da criação de uma nova constituição, novo regimento e novo estatuto para a universidade. Outros movimentos relativos às carreiras de servidores e docentes que foram promessas dos governadores e reitores e que até o momento, não atingiram sua plenitude, porque existem pontos que precisam ser melhorados.


Como servidora da instituição há tantos anos, como avalia o ensino, pesquisa e extensão atualmente em relação às décadas anteriores?


Estamos vivendo momentos áureos do ensino, pesquisa e extensão, especialmente porque temos bastante incentivo financeiro para que essas atividades sejam realizadas da melhor forma possível. Atualmente, temos verba para graduação, para pós-graduação, para pesquisa e para extensão, equipamentos laboratoriais de última geração. Temos fundações de boa qualidade para gerenciar projetos e o incentivo para publicação está a todo o momento batendo em nossas portas. Ainda, com a autonomia universitária, muitos dois nossos reitores revelaram-se excelentes administradores que conseguiram ganhos para a universidade em relação a sua parte financeira.
É muito difícil fazer uma comparação entre uma época e outra porque, embora no passado as verbas fossem escassas, a falta de equipamento era visível, a informática engatinhava e as aulas tinham que ser ministradas no giz e base do conhecimento do professor, na garra e a vontade dos mestres e servidores que faziam o aluno elaborar a prática na sua totalidade. Exemplo: o aluno, para detectar uma bactéria, fazia desde o meio de cultura para crescimento, até a realização do antibiograma que determinava se a bactéria estudada era resistentes, sensível ou moderadamente sensível aos antibióticos testados.
A pesquisa também era realizada praticamente sem incentivo financeiro, mas nem por isso deixava de ser publicada em grandes periódicos nacionais e internacionais. Eventos científicos contavam com a participação maciça de alunos e professores que expunham seus resultados em forma de pôsteres e oral. Os pôsteres eram elaborados manualmente, em cartolinas e os gráficos também de forma artesanal eram confeccionados em papel milimetrado. Não eram utilizados xérox, as teses, memorais, dissertações, etc, eram datilografados em stencil a álcool, a graxa e depois em off set. Mesmo utilizando uma única máquina de escrever (em principio manual e depois elétrica) as secretárias dos departamentos datilografavam todo o material didático, de pesquisa, de extensão e de gestão produzidos pelos membros do departamento. Com todos os obstáculos da época, ótimos projetos foram apresentados à comunidade. Muito deles com propostas duradouras que beneficiam grupos de pessoas até os nossos dias.
Quanto ao ensino, os projetos político-pedagógicos estavam em fase de mudanças constantes, porque a FCMBB utilizava uma metodologia para exposição de aulas em classes e laboratórios e quando a Unesp foi fundada, cada faculdade ficou responsável pelo seu curso, apenas o Instituto Básico de Biologia Médica e Agrícola ficou com a responsabilidade dos básicos de todos os cursos. Mesmo sendo um único curso, a proposta pedagógica era bem formulada e as disciplinas eram ministradas de forma completa. Aulas práticas de microbiologia e imunologia, por exemplo, eram ministradas aos alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Medicina Humana, Medicina Veterinária. O Departamento de Microbiologia e Imunologia, além dos projetos de extensão que beneficiavam à comunidade, como análise de alimentos e água, também realizava todos os exames microbiológicos e imunológicos de pacientes do Hospital das Clinicas.

 
E quanto aos servidores técnico-administrativos, o que mudou?


A essência do servidor não mudou, o que mudou foi a forma de ver a universidade. Como o número de servidores era pequeno, as pessoas se tornavam mais íntimas e, muitas vezes, mais amigas. Procuravam mutuamente se ajudar. Quanto à expectativa de ter uma função melhor a forma utilizada é a mesma dos nossos dias. A maioria das funções de confiança era por indicação.


Gostaria de acrescentar mais alguma informação?


Muitos professores foram convidados para ministrar aulas neste câmpus na época de sua criação. Muitos convidados tornaram-se efetivos, abraçaram o sonho de uma faculdade quase perfeita e não conseguiram deixar a FCMBB para seguirem outras metas. Ficaram e transformaram o sonho em realidade. Com coragem, determinação e muita força de vontade, desbravaram as matas de Rubião Junior e, centrados na expectativa de se obter uma faculdade digna e de respeito mundial, esses professores deram as suas vidas para que a FCMBB prosperasse. O mesmo ocorrendo com os primeiros servidores que não mediram esforços para colocar tudo em funcionamento. Não é muito difícil de lembrar os lutadores e desbravadores que tiveram a coragem de ficar: doutor Montenegro e professora Edy foram exemplos de “colonizadores”.
Por todas as conquistas, grandes amizades e paixões, lutas e sonhos vividos nesta universidade, tenho a sensação de dever cumprido e a grande satisfação de participado ativamente de cada movimento com muita dignidade, honra e orgulho de pertencer ao quadro de servidores desta instituição.


Professora Teruê, Sonia e Eduardo

Nenhum comentário:

Postar um comentário