quinta-feira, 8 de março de 2012

Raoul Henry conta sua trajetória como aluno, professor e pesquisador

Nascido na Bélgica, Raoul Henry, veio com a família para Botucatu, em 1962. No início, ele passou a residir na Fazenda Monte Alegre.  Após concluir o atual Ensino Médio que, na época, era denominado “científico”, ele ingressou na Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB), em 1969.
Também foi o primeiro doutorando da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) a defender tese na instituição. Atuou por 10 anos como editor chefe da Revista Acta Limnologica Brasiliense e foi presidente da Sociedade Brasileira de Limnologia. 
Em entrevista concedida ao Jornal do IB, ele conta como foi ser estudante da FCMBB e depois passar a atuar como professor, atividade que desempenha desde 1974, além de abordar sua atuação na área de pesquisa e  de extensão.

Quando o senhor veio para Botucatu e como foi seu ingresso no curso de Ciências Biológicas?

  De 1950 a 1960, eu morei na África. Em 1960, ocorreu a independência do Zaire. O Zaire, ex-Congo Belga, era uma colônia da Bélgica. Após a independência a família voltou para a Bélgica. A Bélgica comprou uma fazenda em Botucatu, Fazenda Monte Alegre. Na realidade, era para fazer uma cooperativa. Meu pai entrou (trabalhar) aqui e, desde 1962, eu estou no Brasil, em especial aqui em Botucatu. Quando eu cheguei aqui não sabia falar nada de português, tive que aprender a língua, aprender a escrever.   Aí fiz o científico que agora é Ensino Médio. Fiz vestibular e entrei aqui na faculdade, na época chamava Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu.
Eu morava em pensão. A Faculdade era bem menor que hoje e, na época de aluno, nós tínhamos melhor interação entre professor e estudante. O câmpus era bem menor, não havia todos esses prédios. Então, isso facilita também o contato. Quanto maior, mais amplo, a probabilidade de encontro diminui. Isso é normal.
Fiz a faculdade, me formei, aí fiz um ano de estágio na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e depois, então, fiz concurso e entrei como professor.


E quanto aos movimentos estudantis?

Eu não participei muito. Era a época da chamada ditadura e a gente estava fazendo um movimento e eu era estrangeiro, ainda não era naturalizado, como era representante de classe e tinha o famoso decreto 477, eu fui consultar lá para não ter problema porque expulsavam os estrangeiros. A gente sabia que tinha um funcionário que trabalhava na seção de protocolo que era vigilante, vamos dizer assim.  Eu participei da regulamentação da profissão de biólogo. Aqui, por influência da Faculdade de Medicina, era mais voltado à Biomedicina. Foi um grande avanço quando se pôde, no Instituto de Biociências, dividir os cursos nessas duas linhas: Ciências Biológicas e Ciências Biomédicas.

Raoul em Minas Gerais 
Como foi passar de estudante para professor?

Eu me formei com uma especialidade. Você vai fazendo estágio durante sua graduação e aí caiu na mão um livro sobre Ecologia e não tinha essa disciplina. Aí eu fui fazer um estágio na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). Fiz um ano e quando terminei esse estágio fui contratado porque essa disciplina passava a ser obrigatória no currículo de Biologia. Eu também fui indicado porque era estagiário aqui no Departamento de Zoologia. Até 1984 era lá onde hoje é a Cardiologia. Mudamos para cá porque esses dois prédios pertenciam à Agronomia e a Agronomia mudou para o Lageado.

Gostaria que falasse sobre sua atuação na área de pesquisa. Quais os principais resultados que obteve ao longo dos anos?

 A minha área de pesquisa é Ecologia de águas continentais. Então, quando eu fui contratado aqui, a primeira pesquisa que eu fiz, o meu mestrado, foi sobre a represa do Rio Pardo, o “Véu da Noiva”. Tem uma cascata lá e tem uma represa lá em cima. E de doutorado eu fiz em Minas Gerais e em São Carlos.  A represa é um ambiente que difere de lago, um ambiente de transição, e você tem represas que têm diferentes portes e volumes de água. Então, você tem ambientes que se comportam quase como rios, como, por exemplo, a Represa “Véu da Noiva” e represas que são parecidas com lagos como a Represa Jurumirim. Você tem gradiente de condições muito distintas de lagos e represas. Lago é considerado como um ambiente praticamente estável. Todos os grandes rios estão sendo transformados em represas. Modifica a estrutura da comunidade de peixes, tem alguns que são adaptados à água corrente enquanto que outros não. Então, desorganiza tudo e forma-se um novo equilíbrio, mas tem todo um período de transição. Trabalhei bastante em projetos de represas. Vou fazer compilação de dados na Represa de Jurumirim, em Paranapema, onde trabalho desde 1988 e vou fazer a síntese dos dados.
Ao longo de minha carreira eu fui publicando, eu fui sendo conhecido. Fui presidente da Sociedade Brasileira de Limnologia.

O senhor chegou a participar da Operação Sueste, em 1983. Que lembranças tem desse trabalho?

Naquela época, o Instituto achou que era bom os alunos terem contato com a vida marinha. E tinha um professor, já falecido, da Biofísica (departamento), que tinha uma interação muito grande com a Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, que possui um câmpus avançado no litoral do Paraná e, naquela ocasião, surgiu uma oportunidade, através desse professor, Pedro Luchiari, de participar de uma viagem num navio oceanográfico. Aí foram algumas alunas, eu, o Gilson (Volpato). Como eu trabalhava com águas continentais, queria ter essa experiência de participar pelo menos uma vez de uma viagem oceanográfica na costa no Paraná.
Mostrou-se como coletava um plâncton marinho, a fauna de fundo do mar com arrasto, que eu faço em lagoas. E era esse o projeto. Embarcamos nesse navio, ficamos lá uma semana participando. Era da Marinha. Fizemos alguns experimentos.


Também gostaria que comparasse ensino, pesquisa e extensão atualmente em relação ao começo de sua carreira.

Você tem muito mais exemplos, estudo de casos para apresentar aos alunos, não fica só em livros. Agora tem uma massa de informação bastante grande. Quando você mostra um problema ao seu lado, eu acho que é mais fácil ensinar. 
Eu estou fazendo extensão na tentativa de melhoria de Ensino Fundamental e Médio e tive a participação em um projeto que envolveu professores e alunos em Angatuba, onde eu trabalho na Represa de Jurumirim. Como eu conhecia melhor aquela região, achei que era melhor envolver o pessoal. A primeira fase desse projeto nós convidamos professores e alunos da rede municipal de ensino para visitar o local e ver como que fazemos o estudo em águas. Numa segunda fase, alguns professores queriam um projeto com participação mais efetiva. Para reconhecimento da qualidade de água que desemboca naquela área, para conhecerem um problema do cotidiano. Eram 10 professores e em torno de 60 alunos. Eu acho que isso é bom. De um lado para os alunos de mestrado e doutorado é bom porque tomam contato com a realidade e ganham experiência de ensino para uma turma mais jovem. E, para os alunos do Ensino Fundamental e Médio, eles têm contato com o pessoal da universidade porque para eles a universidade está tão longe. Aí perguntam coisas sobre o futuro, perspectivas, quais as melhores universidades, cursos.

O professor durante a Operação Sueste, no Paraná
                                             

Sonia Faraldo: “Por todas as conquistas, grandes amizades e paixões, lutas e sonhos vividos nesta universidade, tenho a sensação de dever cumprido”

 Nesta entrevista, Sonia Faraldo lembra as funções que desempenhou, como era o câmpus na década de 1970 e os principais movimentos realizados, principalmente por servidores 

 





Quando e em qual função ingressou na FCMBB?

Em 25 de abril de 1974 fui contratada na Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu para exercer a função de secretária-bolsista do Projeto Kellog, no Departamento de Saúde Pública, antigo Departamento de Medicina Legal e Preventiva, sob a responsabilidade do professor Nelson de Souza. Neste mesmo ano, fui para o Centro de Saúde Escola para ocupar a função de secretária-bolsista, sob a chefia do professor Eurivaldo Sampaio de Almeida. O Centro de Saúde era conveniado com a FCMBB e Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Com a saída do professor Eurivaldo para ocupar a função de Secretário de Saúde do Estado São Paulo, trabalhei sob a chefia da professora Cecília Magaldi. Em 31 de dezembro de 1975, assumi, por concurso público, a função de escriturária na secretaria da vice-diretoria da FCMBB e colaborava com a Seção de Engenharia e Planejamento desta Faculdade, sob a chefia do professor Paulo Mattos. Fui escriturária na Seção de Nutrição e Dietética do HC da FCMBB, no período de abril de 1976 a fevereiro de 1977.


E no Instituto?


Em março de 1977, com a criação do Instituto Básico de Biologia Médica e Agrícola passei a exercer a função de escriturária no Departamento de Microbiologia e Imunologia, sob a chefia do professor Carlos Alberto de Magalhães Lopes. No final de março de 1977, fui nomeada Secretária CD2 do Departamento de Microbiologia. Ocupei funções indicadas por órgãos colegiados do IB: representante de Conselho do Departamento, representante na Congregação, membro do Conselho Curador da Fundibo (Fundação do Instituto de Biociências), membro titular da Comissão de Biossegurança do IB, de comissões processantes indicadas pela Diretoria do IB, de apoio à Comissão Recursos Humanos, de comissão de avaliação de servidores nas carreiras da universidade, de comissões para estudo da reforma de estatutos e reforma constitucional, representante dos secretários do câampus de Botucatu para tratar de assuntos da categoria na Reitoria da Unesp.

 Como era o câmpus no início de sua carreira? 
Sônia no Departamento de Saúde Pública, em 1974
A FCMBB era uma das melhores universidades do país. Foi criada na década de 50, com apoio político do ex-presidente Jânio Quadros, do governador Adhemar de Barros, que doou a área para seu funcionamento e o prefeito de Botucatu, Emilio Peduti, que não mediram esforços para transformar uma área que era destinada a um hospital de tuberculosos para Faculdade de Medicina de Botucatu. Ainda contou com o espírito de luta dos jornalistas José Amaro Faraldo e Zeferino Vaz para que o sonho fosse realizado. Passou a funcionar oficialmente em 1963. Nessa época, 16 servidores fizerem concurso para funções de servente e escriturário. Como administrador, o senhor Walter de Souza era responsável por esses servidores, bem como por todos os atos administrativos processados nesta Faculdade. Todos os departamentos, incluindo os das Ciências Agronômicas, ficavam no H (prédio branco). O prédio do câmpus não existia, nem a Biblioteca. Os prédios extras eram o da Seção de Transporte, Gráfica, Almoxarifado, Necrotério, Lavanderia. Os servidores picavam seus cartões de ponto no corredor central, onde funciona atualmente, a cozinha do HC (Hospital das Clínicas), a área de vacina.
Como é do conhecimento de todos, o professor Nicanor Letti ministrou a 1ª aula de anatomia na FCMBB, conhecida como aula inaugural, mas precisou sair da nossa instituição, deixando um legado de conhecimento às novas gerações, bem como a nossa gratidão e reconhecimento pelos seus feitos. Em seu lugar ficou o professor Neivo Zorzetto, responsável pelo Departamento de Anatomia, que, desta data em diante, não mediu esforços para que a qualidade dos nossos cursos fosse mantida.
O Departamento de Microbiologia e Imunologia funcionava onde é a Maternidade, depois mudou em cima do Departamento de Patologia. Em princípio, a Microbiologia e Imunologia eram disciplinas do Departamento de Patologia, que além dessas comportava a Disciplina de Parasitologia e Anatomia Patológica. As disciplinas eram integradas, mas independentes quanto à sua maneira de atuação e de gestão.

Que lembranças tem da época da criação da Unesp e do Instituto?


Desde 1974, já existia a vontade política de se criar a Universidade Estadual Paulista que absorvesse boas faculdades do Estado de São Paulo. Entre elas a FCMBB estava no rol das que seriam incorporadas. Foi montada uma comissão precursora para estudar a incorporação da FCMBB à Unesp onde participavam os professores Armando Ramos e Gilberti Moreno, entre outros. Na época, ocorreram muitas passeatas contrárias a essa vontade política. Muitos professores foram conversar com o governador do Estado e secretários, envolveram políticos solidários da época, para impedir que esse feito se concretizasse, mas de nada adiantou. Aconteceu a incorporação da FCMBB. Nessa oportunidade, o governador indicou Luiz Ferreira Martins para primeiro reitor. Em Rubião Júnior, a FCMBB foi dividida em faculdades interligadas, mas com gestões próprias. Fomos divididos em cinco unidades administrativas: Faculdade de Medicina, Faculdade de Medicina Veterinária, Faculdade de Ciências Agronômicas, Instituto Básico de Biologia Médica e Agrícola e o Grupo Administrativo do Câmpus. Nessa oportunidade, vários departamentos que pertenciam à FCMBB desmembraram-se. O Departamento de Patologia, por exemplo, ficou na Faculdade de Medicina e suas disciplinas Microbiologia, Imunologia e Parasitologia tornaram-se departamentos independentes no Instituto Básico de Biologia Médica e Agrícola. Assim, no final de 1976, inicio de 1977, o Instituto iniciou suas atividades acadêmicas e administrativas, sob a direção da professora Wilma Pereira Bastos Ramos (diretora) e Gilberti Moreno (vice-diretor). O Instituto foi dividido em 13 Departamentos: Anatomia, Biofisica, Bioestatistica, Bioquímica, Botânica, Educação, Farmacologia, Fisiologia, Genética, Microbiologia e Imunologia, Morfologia, Parasitologia, Zoologia. Os departamentos, em principio, funcionavam, muitas vezes, de forma precária, porque estávamos em fase de adaptação. O Departamento de Educação, por exemplo, funcionou juntamente com uma unidade do IB chamada na época de CCI (área de informática). A Diretoria compreendia a área administrativa composta pelos diretores, pela secretária Ivonete Dorini de Aguiar e Silva e pelo pessoal de apoio que era composto pela área acadêmica onde o servidor Helio Cotrim era o diretor técnico-acadêmico e a Diretoria Administrativa que era ocupada pelo servidor José Vicente Fortes. As seções que funcionavam eram: Graduação, Seção de Pessoal e Pagamento, Atividades Auxiliares e Manutenção. Ainda não tínhamos uma central de aulas. Os alunos ficavam espalhados pelo câmpus. Começamos nossas atividades nos prédio onde estamos hoje, em 1981. Nessa oportunidade já contávamos com o nosso Anfiteatro. Estávamos em fase de contenção de verbas, porque dependíamos completamente da verba do governo do Estado que repassava às universidades estaduais. Era uma quantia insuficiente para mantê-las, bem como seus hospitais. Foram anos de muitas dificuldades financeiras e de muitas transformações. O professor Gilberti estava sempre em entendimento com órgãos do Estado e empresas particulares para conseguir mobiliário para este Instituto. A Fatec e o Banco Itaú colaboraram nas doações. Muitos convênios foram firmados para aquisição de Equipamentos, por exemplo: Convênio com Alemanha, Convênio com a Hungria, Convênio Franco-Brasileiro, Convênio com a Espanha, etc. Embora tivéssemos uma visão positiva quando da assinatura desses convênios, o resultado não era dos melhores, porque apenas equipamentos antigos e sucateados chegavam ao nosso câmpus. Além disso, os aparelhos acabavam em desuso por falta de garantias e de mãos-de-obra especializadas para manuseá-los e consertá-los. Ficavam encostados e serviam de entulhos nos corredores dos departamentos, após terem sido patrimoniados, tornava-se muito difícil o descarte. Entretanto, mesmo com todos os problemas ocasionados pela divisão entre as faculdades, a qualidade do ensino era a mesma, porque sempre tivemos ótimos professores e servidores que nunca deixaram a qualidade das nossas aulas se perderem. A base firme e forte da FCMBB ficou como um suporte para que as transformações continuassem a ocorrer, mas a saúde dos nossos cursos prevaleceu. Os departamentos funcionavam concomitantemente e integrados. As disciplinas eram matérias de domínio conexo e ministradas em uma sequência lógica. Os laboratórios eram conjuntos e todos os alunos, de forma geral, aprendiam na mesma cartilha.


Quais foram os principais movimentos de servidores técnico-administrativos?

Servidores e docentes sempre lutavam juntos pela desigualdade social, pela qualidade da saúde, pelo meio ambiente, por melhores salários, enfim pela ideologia político-social.
Assim, grandes movimentos ocorreram nestes anos de FCMBB (63-76) e de Unesp, como: Operação andarilho, 70 + 2000, Democratização e liberdade política, participação da criação de uma nova constituição, novo regimento e novo estatuto para a universidade. Outros movimentos relativos às carreiras de servidores e docentes que foram promessas dos governadores e reitores e que até o momento, não atingiram sua plenitude, porque existem pontos que precisam ser melhorados.


Como servidora da instituição há tantos anos, como avalia o ensino, pesquisa e extensão atualmente em relação às décadas anteriores?


Estamos vivendo momentos áureos do ensino, pesquisa e extensão, especialmente porque temos bastante incentivo financeiro para que essas atividades sejam realizadas da melhor forma possível. Atualmente, temos verba para graduação, para pós-graduação, para pesquisa e para extensão, equipamentos laboratoriais de última geração. Temos fundações de boa qualidade para gerenciar projetos e o incentivo para publicação está a todo o momento batendo em nossas portas. Ainda, com a autonomia universitária, muitos dois nossos reitores revelaram-se excelentes administradores que conseguiram ganhos para a universidade em relação a sua parte financeira.
É muito difícil fazer uma comparação entre uma época e outra porque, embora no passado as verbas fossem escassas, a falta de equipamento era visível, a informática engatinhava e as aulas tinham que ser ministradas no giz e base do conhecimento do professor, na garra e a vontade dos mestres e servidores que faziam o aluno elaborar a prática na sua totalidade. Exemplo: o aluno, para detectar uma bactéria, fazia desde o meio de cultura para crescimento, até a realização do antibiograma que determinava se a bactéria estudada era resistentes, sensível ou moderadamente sensível aos antibióticos testados.
A pesquisa também era realizada praticamente sem incentivo financeiro, mas nem por isso deixava de ser publicada em grandes periódicos nacionais e internacionais. Eventos científicos contavam com a participação maciça de alunos e professores que expunham seus resultados em forma de pôsteres e oral. Os pôsteres eram elaborados manualmente, em cartolinas e os gráficos também de forma artesanal eram confeccionados em papel milimetrado. Não eram utilizados xérox, as teses, memorais, dissertações, etc, eram datilografados em stencil a álcool, a graxa e depois em off set. Mesmo utilizando uma única máquina de escrever (em principio manual e depois elétrica) as secretárias dos departamentos datilografavam todo o material didático, de pesquisa, de extensão e de gestão produzidos pelos membros do departamento. Com todos os obstáculos da época, ótimos projetos foram apresentados à comunidade. Muito deles com propostas duradouras que beneficiam grupos de pessoas até os nossos dias.
Quanto ao ensino, os projetos político-pedagógicos estavam em fase de mudanças constantes, porque a FCMBB utilizava uma metodologia para exposição de aulas em classes e laboratórios e quando a Unesp foi fundada, cada faculdade ficou responsável pelo seu curso, apenas o Instituto Básico de Biologia Médica e Agrícola ficou com a responsabilidade dos básicos de todos os cursos. Mesmo sendo um único curso, a proposta pedagógica era bem formulada e as disciplinas eram ministradas de forma completa. Aulas práticas de microbiologia e imunologia, por exemplo, eram ministradas aos alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Medicina Humana, Medicina Veterinária. O Departamento de Microbiologia e Imunologia, além dos projetos de extensão que beneficiavam à comunidade, como análise de alimentos e água, também realizava todos os exames microbiológicos e imunológicos de pacientes do Hospital das Clinicas.

 
E quanto aos servidores técnico-administrativos, o que mudou?


A essência do servidor não mudou, o que mudou foi a forma de ver a universidade. Como o número de servidores era pequeno, as pessoas se tornavam mais íntimas e, muitas vezes, mais amigas. Procuravam mutuamente se ajudar. Quanto à expectativa de ter uma função melhor a forma utilizada é a mesma dos nossos dias. A maioria das funções de confiança era por indicação.


Gostaria de acrescentar mais alguma informação?


Muitos professores foram convidados para ministrar aulas neste câmpus na época de sua criação. Muitos convidados tornaram-se efetivos, abraçaram o sonho de uma faculdade quase perfeita e não conseguiram deixar a FCMBB para seguirem outras metas. Ficaram e transformaram o sonho em realidade. Com coragem, determinação e muita força de vontade, desbravaram as matas de Rubião Junior e, centrados na expectativa de se obter uma faculdade digna e de respeito mundial, esses professores deram as suas vidas para que a FCMBB prosperasse. O mesmo ocorrendo com os primeiros servidores que não mediram esforços para colocar tudo em funcionamento. Não é muito difícil de lembrar os lutadores e desbravadores que tiveram a coragem de ficar: doutor Montenegro e professora Edy foram exemplos de “colonizadores”.
Por todas as conquistas, grandes amizades e paixões, lutas e sonhos vividos nesta universidade, tenho a sensação de dever cumprido e a grande satisfação de participado ativamente de cada movimento com muita dignidade, honra e orgulho de pertencer ao quadro de servidores desta instituição.


Professora Teruê, Sonia e Eduardo

Trabalho sobre fertilidade feminina pós-câncer é premiado

          Favorecer a preservação de tecido ovariano de primata não-humano para melhoria da técnica de criopreservação (congelamento) e consequente restauração da fertilidade de meninas e mulheres após o tratamento de câncer.  Esse foi o objetivo de pesquisa realizada pela professora Camila Contin Diniz de Almeida-Francia, do Departamento de Anatomia do Instituto de Biociências, durante pós-doutorado, em Oregon, nos Estados Unidos, e que resultou no trabalho Post-thaw function of cryopreserved secondary follicles from ovarian tissue in the Rhesus Macaque, que obteve o 2º lugar na categoria pôster durante o XXII International Symposium on Morphological Sciences (ISMS), realizado de 12 a 16 de fevereiro, em São Paulo.
        Durante o estudo, realizado por meio de intercâmbio de três meses junto à Oregon Health & Science University e o Oregon National Primate Research Center, sob supervisão da pesquisadora Mary B. Zelinski, a professora do IB desenvolveu duas técnicas: cultura de folículos secundários ovarianos e criopreservação de folículos ovarianos de macacas Rhesus (Macaca mulatta).
Segundo Camila, os resultados obtidos nas primatas sugeriram que a vitrificação com glicerol e etileno glicol (crioprotetores) e os polímeros PXZ (bloqueadores da formação de gelo nas células), em sistema fechado, têm potencial como método para congelamento de folículos secundários isolados. “Pela primeira vez, folículos de macacas isolados de tecido criopreservado sobreviveram, cresceram, formaram antro e produziram hormônios esteróides”, explica.
         Sobre a aplicabilidade, ela destaca que esse estudo fornece opção para tecnologias de reprodução assistida após cultura de folículos ovarianos e aumenta a viabilidade do tecido para transplante em pacientes com o propósito de restaurar a fertilidade e possibilitar futura gestação de meninas e/ou mulheres que sobreviveram a um câncer.

Ingressantes em 2012 participam de atividades de recepção

Nos dias 27 e 28 de fevereiro, foram realizadas atividades de recepção aos ingressantes em 2012 nos cursos de graduação do Instituto de Biociência. As ações visaram a formação, recreação e integração e foram planejadas por alunos, professores e servidores técnico-administrativos.
  Na abertura dos eventos programados, o diretor do IB, Renato Eugênio da Silva Diniz, cumprimentou os calouros e falou da responsabilidade que os estudantes passam a ter a partir de agora. “Foi uma grande conquista que vocês realizaram quando conseguiram a vaga. Agora vocês terão novos passos para construir essa formação profissional que vieram buscar. Nós procuramos oferecer o melhor”, disse. “Deverão sair daqui profissionais competentes para contribuir com o avanço da sociedade”, complementou Diniz.
Ele também destacou a contribuição dos servidores docentes e técnico-administrativos na formação dos graduandos, a infraestrutura disponibilizada e o fato de os calouros ingressarem na instituição no ano em que o IB comemora 35 anos.
Já a vice-diretora, Maria Dalva Cesario, além de parabenizar os primeiranistas, também estimulou os estudantes a vivenciar as oportunidades proporcionadas nessa etapa que está se iniciando. “Eu tenho certeza que serão os melhores anos da vida de cada um de vocês. Saibam aproveitar cada minuto aqui dentro da universidade”.
O presidente da comissão de recepção, professor Wellerson Rodrigo Scarano, falou da preocupação em receber os ingressantes de maneira acolhedora, apresentar a instituição e ainda do compromisso que os alunos passam a ter ao ingressar nos cursos de nível superior.
O representante discente da comissão de recepção, Felipe Douglas de Oliveira, ressaltou a conquista obtida pelos novos graduandos e se colocou à disposição para auxiliar os calouros.
Também participaram da abertura os coordenadores dos cursos de Ciências Biológicas, Ciências Biomédicas, Nutrição e Física Médica, respectivamente, Wilma de Grava Kempinas, Wilson de Mello Júnior, Luiza Domingues Dias e Roberto Morato Fernandes.
Uma das novidades foi a tutoria de professores para dúvidas acadêmicas ou reclamações sobre trote. Entre as atividades estiveram palestras sobre o temas “Universidade: desafios a um ingressante“ e “Saúde ambiental”, doação de kits de higiene para entidade do distrito de Rubião Júnior, visitas aos departamentos da instituição  e integração com alunos de outras faculdades do câmpus de Botucatu.

Pós-graduanda da Espanha realiza estudo no Laboratório de Biologia e Genética de Peixes

          A doutoranda Xoana Taboada, da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, está participando de intercâmbio no Laboratório de Biologia e Genética de Peixes do Instituto de Biociências.
            A pós-graduanda desenvolve estudo sobre mecanismos de determinação sexual de uma espécie de linguado (Scophthalmus maximus), peixe que se apresenta como um dos mais importantes na aquicultura.
           Segundo Xoana, uma ferramenta que discrimine machos e fêmeas teria uma importância econômica fundamental, tendo em vista que as fêmeas se desenvolvem de maneira mais rápida, crescendo mais que os machos.
Sobre as etapas do estudo, ela explica que depois da identificação de genes determinantes do sexo do animal, será realizado o sequenciamento do seu genoma. A estudante ainda comentou que o interesse em realizar parte de seu trabalho no Laboratório de Biologia e Genética de Peixes do IB se deve à experiência dos pesquisadores que atuam no local na área de estudos de genética e estrutura cromossômica de peixes.  
Professor Fausto Foresti é um dos supervisores
 da pesquisa de  Xoana 
          O trabalho de Xoana, que está na instituição desde janeiro e permanecerá até abril, é supervisionado pelo professor Fausto Foresti e pelo pós-doutorando José Carlos Pansonato Alves, ambos do Departamento de Morfologia. De acordo com o docente, a vinda de Xoana foi possibilitada por trabalhos que vêm sendo realizados em colaboração com o professor Paulino Martinez Portela, da Universidade de Santiago de Compostela.
         Ele destaca também que essa parceria permitiu que a doutoranda Vanessa Paes da Cruz, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas – Zoologia, e a graduanda em Ciências Biológicas Natália Jade Mendes, que são alunas do IB, realizassem estágio em laboratórios da Universidade de Santiago de Compostela que contam com coordenação do professor Portela. As duas estudantes desenvolvem análises de marcadores moleculares de raias e tubarões.

Curso abordou biologia da conservação

         No período de 6 a 10 de fevereiro, foi realizado o curso “Inventário da fauna silvestre e biologia da conservação” no Instituto de Biociências (IB) e na Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, câmpus de Botucatu.
        Durante a capacitação, que contou com atividades práticas em campo e laboratório, foram abordados assuntos como Coleta de fezes de mamíferos de médio e grande portes; Coleta de sangue de mamíferos domésticos; Citogenética animal e suas aplicações; Biologia, ecologia, métodos de estudo e captura de aves, morcegos e mamíferos; Delineamento, análise de dados e apresentação de relatórios de fauna silvestre; Cultura de tecidos para análise citogenética; Extração de DNA de material coletado; PCR e reação de sequenciamento; e Bioinformática.
          Para Patrícia Greco Ferreira, que cursa o 2º ano de Medicina Veterinária no câmpus de Botucatu da Unesp, a atividade possibilitou adquirir conhecimentos que ainda não teve em sala de aula, além de melhor compreensão sobre animais silvestres, área que ela pretende se dedicar.
          Já Bruna Loreni da Silva, do 3º ano de Biologia da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), falou que foi uma possibilidade de  entrar em contato com novas práticas de ensino e também trocar experiências com outros estudantes.
          Mas houve quem decidiu fazer o curso para se atualizar. Esse foi o caso de Valmi Dámaso, professor  da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que destacou a interação proporcionada pela capacitação. “Foi excelente e teve bastante interação porque há participantes desde a graduação até profissionais que estão no mercado há muito tempo”, comentou.
          Dámaso também disse que os conteúdos enfocados serão úteis tanto em sua atuação como professor como em outros trabalhos que desenvolve.  


Participantes do curso

IB e universidade escocesa desenvolvem pesquisa sobre expressão gênica em pacu


        Caracterizar os genes expressos (transcriptoma) no músculo estriado do pacu (Piaractus mesopotamicus) é o principal objetivo de pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Biologia do Músculo Estriado (LBME), do Instituto de Biociências (IB) da Unesp, câmpus de Botucatu, em parceria com o Scottish Ocean Institute, School of Biology, da University of St Andrews, na Escócia.
          Segundo a professora Maeli Dal Pai Silva, do Departamento de Morfologia do IB, essa integração científica teve início durante um estágio que ela realizou na University of St Andrews e o estudo possibilitará identificar genes que controlam o desenvolvimento e o crescimento do músculo estriado nesta espécie. A coordenadora do projeto ressalta ainda que, a partir dos resultados, será possível o desenvolvimento de outros estudos na área.
          Já o professor Robson Francisco Carvalho, também do Departamento de Morfologia do IB e que integra a equipe de pesquisa, essa é uma experiência inédita. Ele destaca que essa investigação permitirá analisar como fatores ambientais e nutricionais podem interferir no desenvolvimento e crescimento dessa espécie, aspectos esses que, segundo Maeli e Carvalho, têm importância biológica e econômica. A equipe do LBME, composta por alunos de iniciação científica, mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos também participará do estudo e desenvolverá a análise do perfil de expressão de microRNAs, moléculas reguladoras da expressão gênica.
           Na Escócia, serão realizadas parte do sequenciamento e das análises de bioinformática. Maeli salienta que o professor Ian Alistar Johnston, da University of St Andrews e que participará do estudo, é um dos maiores pesquisadores mundiais em  Biologia Estrutural, Genômica e Proteômica em músculo estriado de peixes e que a equipe do laboratório que ele coordena  possui bastante experiência nessa área. 
           O estudo conta com financiamento de R$372 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e de R$ 50 mil do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).  A pesquisa deverá ser concluída no início de 2014.

Aprendizado nas férias: alunos do Ensino Médio participaram de oficinas no IB


Entrar em contato com avanços científicos recentes por meio de oficinas que estimulam a criatividade. Isso foi o que proporcionou a 6ª edição do projeto de extensão universitária “Difundindo e popularizando a ciência” que teve a participação de  280 alunos do Ensino Médio e foi realizada no período de 23 a 28 de janeiro.
Durante os cursos, foram enfocados os temas botânica, genética, reprodução e doenças tropicais.
Na abertura dos trabalhos, a pró-reitora de Pós-Graduação da Unesp, Marilza Vieira Cunha Rudge, destacou o interesse dos alunos que compareceram e a importância das atividades para transmissão de conhecimentos de uma maneira compreensível aos estudantes do Ensino Médio.
Cíntia Galvão e Brunna dos Santos Martins dizem ter adquirido
novos conhecimentos
Já a professora Adriane Pinto Wasko, que coordena o “Difundindo e Popularizando a Ciência” lembrou a trajetória do programa, as metas e também as conquistas, além de salientar que os cursos de férias foram baseados em modelo desenvolvido por Leopoldo Demeis, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que iniciou trabalhos de popularização da ciência em 1985. Ainda segundo ela, as oficinas realizadas pela Unesp estão integradas à Rede Nacional de Educação e Ciências – Novos Talentos da Rede Pública.
As oficinas contaram com cerca de 100 monitores que são pós-graduandos, graduandos e estudantes que participaram de cursos em edições anteriores. 
Vários alunos disseram que aprenderem bastante em uma semana de oficinas. em uma semana. “Gostei desse jeito de ensinar. É  uma maneira mais fácil, que dá para guardar melhor o que vimos”, comentou Andressa Nagatani, que cursa o 3º ano do Ensino Médio, e pretende ingressar em Biologia ou Engenharia Florestal.
Já Cíntia Lopes Galvão e Brunna Roberta dos Santos Martins, que estão no 2º ano do Ensino Médio, salientaram os conhecimentos adquiridos e afirmaram que o curso pode ajudar na escolha profissional. Cintia disse ter aprendido mais sobre a clorofila e Brunna disse ter descoberto que a banana possui semente.
Mas não foram apenas os inscritos que adquiriram novos aprendizados. A monitora Jennyfer Fernanda Rodrigues Domingues, graduanda em Medicina, afirmou que atuar nas oficinas possibilitou que ela pudesse ter contato com uma forma de ensinar de mais fácil compreensão.
     As atividades tiveram a participação dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Biológicas áreas de concentração em Genética, Botânica e Biologia Geral e Aplicada, pertencentes ao IB, além do Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais, da Faculdade de Medicina (FM).

Estudo desenvolvido no IB é premiado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia

Marcos Quint/SBC 
Thiago Bruder Nascimento (à direita)
durante cerimônia de premiação
     Thiago Bruder Nascimento, que concluiu o mestrado em Ciências Biológicas – Farmacologia pelo Instituto de Biociências (IB) da Unesp, câmpus de Botucatu, foi um dos vencedores da 7ª edição do Prêmio Arquivos Brasileiros de Cardiologia (ABC) de Publicação Científica, promovido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e que contemplou os autores dos cinco melhores artigos originais publicados na revista ABC em 2011.
          O pesquisador foi premiado pela produção de trabalho que teve como objetivo avaliar, em ratos machos Wistar, o impacto da obesidade induzida por dietas ricas em gordura na modulação da via do óxido nítrico no tônus arterial, com enfoque nas células endoteliais e musculares lisas.
           Para esta investigação, foram estudados animais com 30 dias de vida separados nos grupos controle e obeso. No primeiro caso, os ratos foram alimentados com ração padrão contendo 4% de gordura, 42,7% de carboidratos e 22% de proteínas. O grupo de obesos, por sua vez, recebeu uma dieta com 20% de gordura, 26,4% de carboidratos e 20% de proteínas. Após 30 semanas, registrou-se o peso corporal, índice de adiposidade, pressão arterial e perfis metabólicos e endócrinos dos animais.
         Nascimento teve como resultado que os ratos obesos ingeriram menos alimento que os ratos controles. No entanto, ao final de 30 semanas, a ingestão de calorias, o índice de massa corporal e o peso final foram maiores nos obesos se comparados ao grupo controle. Já a pressão arterial não diferiu entre o grupo controle e o obeso e a tolerância à glicose foi menor nos ratos obesos.
           O estudo desenvolvido pelo pesquisador consistiu em parte de sua dissertação de mestrado e contou com orientação da professora Sandra Cordellini, do Departamento de Farmacologia do IB, co-orientação do professor Antônio Carlos Cicogna, da Faculdade de Medicina (FM) da Unesp, e colaboração de pós-graduandos, também da FM.
           Os cinco artigos eleitos como melhores foram selecionados por 30 especialistas,  sendo que, na avaliação, considerou-se aspectos relacionados à originalidade e relevância do tema da pesquisa, delineamento da metodologia, impacto dos resultados na área do conhecimento,  clareza e adequação das conclusões apresentadas.
         O artigo de Nascimento está disponível em http://socios.cardiol.br/noticias/2011/20111125-premioabc.asp